terça-feira, 19 de maio de 2009

FALLING ANGELS

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segunda-feira, 18 de maio de 2009

SOLSTÍCIOS E CLAREIRAS


Um espaço pós-urbano é um lugar nem sempre passível de se adentrar; olha-se para ele e a inexistência de algumas pegadas de seres vivos não ajuda a dar esse passo. É outro universo em que poucas almas habitam e aguardam e apenas uma lente consegue entrar. Algum vira-lata avisa e chama para ir até onde seu latido for marcando. E lhe obedecendo, depois não se encontra nada, nada que não seja um lugar cujas ruínas intactas parecem ter-se aberto nesse único instante da testemunha impossível e que nunca mais se dará assim. Trata-se de templos vazios ou esvaziados de sentido. A ação humana conta para a memória da destruição.
Os templos, edificados pelos homens à sua divinidade, ficaram num escandaloso vazio que a clareira ilumina tentando restituir uma aura àquilo que resistiu à existência. Parece que o nada e o vazio latejam continuamente na vida humana: estruturas devoradas parecem ficar em suspenso, abstraídas de todos os tempos, frotando-se no negativo do êxtase. Impõe-se o silêncio, obscuramente também, sem que a clareira o faça desaparecer na sua mudez alegórica. O clamor pelo êxtase, que perante a clareira vivente acomete, obriga o visitante a permanecer, que assim se torna intruso. E aparece depois na clareira, sempre oculto: a visão adequada ao olhar acordado e, ao mesmo tempo, submetido à letargia das ilusões perdidas, à inexistência pressentida e ao humano desenrostrado.
Ora mostra-se a clareira no solstício, como espelho de luz, claridade abanante que apenas deixa imaginar algo que rapidamente se desvanece. Tudo parece ser alegórico, tudo parece ser oblíquo, a própria luz do solstício, que se manifesta como reflexo, a luz que desaparece por instantes arrastando consigo o tempo. A irradiação da luz que não deixa de descer e de se curvar para entrar por toda fenda escura, optando por essa insinuação; diretamente não pode, sem a violência avassaladora, permitir a si própria entrar num último recanto onde as cores optaram por não nascer, evitando, assim, filtrar no preto e no branco, uma cor accesível. Os solstícios – do verão e do inverno – resplandecem em seu ocaso, antes que em cima, nos céus, em baixo, entre o escuro e a espessura, criando assim uma imprevísivel clareira num mundo pós-urbano.
A luz entre sombras aparece como privilegiados repousos da luz, que nas estruturas se recolhe, adentrando nas ruínas para depois se mostrar juntamente com o vazio que se estende para aquela divinidade que desapareceu ou que nunca chegou e ainda está sendo messianicamente aguardada. Uma figura humana neste vazio anda prestes a mostrar-se, na sua enxuta corporeidade, sua cegueira nunca vencida pela visão do vazio, algum animal sem fábula olha neste cemitério, algum farrapo aparece nesta brancura não vista. Um universo barroco de fachadas, precariedade das estruturas, onde o que significa e o significado parecem ser um só mesmo, onde a presença humana não pode ser suportada e a natureza perdida aparece e se esconde.
E o tempo já não decorre, como antes, lá longe onde se anuncia o centro, o velho centro com suas clareiras, que parecem prometer uma visão nova, onde o real não seja mais que uma imagem a ser percorrida.